Mestra Titinha: protagonismo da mulher na arte do mamulengo
O Teatro de Bonecos Popular do Nordeste não se resume há um brinquedo do folclore, mas faz parte de um universo que envolve a produção de conhecimento criativo, artístico e com uma forte carga de representação teatral. No ano de 2015, recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o reconhecimento como Patrimônio Cultural do Brasil.
Sua origem está ligada ao período da colonização do Brasil e permite uma diversidade de temáticas: religiosas, profana ou de costumes populares. Em Pernambuco, no século XVI, quando os primeiros franciscanos chegaram à cidade de Olinda, criaram presépios mecanizados para catequizar os habitantes do lugar. Na confecção usaram arames, fios e roldanas e realizaram pequenos movimentos.
Atualmente, os personagens são confeccionados com madeira e chita. A brincadeira acontece dentro de uma espécie de barraca, chamada de empanada. A apresentação envolve os bonecos que em cena ganham vida através de narrativas poéticas dos mestres bonequeiros. Destaque para o humor e a criatividade presente em cada personagem.
A cidade de Glória do Goitá, na Zona da Mata de Pernambuco, recebeu o título de Capital Estadual do Mamulengo e tem como representantes os mestres Zé Lopes e Zé de Vina. Destaque para o surgimento de uma nova geração de mamulengueiros, especialmente pelo trabalho desenvolvido pela Associação Cultural dos Mamulengueiros e Artesãos de Glória do Goitá. Na cidade funciona o Museu do Mamulengo, que é o principal ponto de cultura, situado no antigo mercado público. No local são expostas diferentes peças do teatro de bonecos, como também são realizadas oficina de mamulengos e apresentações.
A artesã, bonequeira e mamulengueira Edjane Maria Ferreira de Lima, conhecida como mestra Titinha teve o primeiro contato com a brincadeira do mamulengo no ano 2.000, através de um Projeto do Centro de Revitalização do Mamulengo de Pernambuco. Inicialmente o grupo aprendeu a confeccionar os bonecos. Para dar continuidade ao trabalho foi formalizada a associação e com o apoio do mestre Zé de Vina eles aprenderam outros elementos que faziam parte da apresentação. No ano de 2008, eles formaram o “Mamulengo Nova Geração” e o grupo foi ganhando reconhecimento e proporção.
Titinha lembra que com o seu sogro, Mestre Zé Lopes aprendeu a esculpir os bonecos. Com os mestres Zé de Vina e Bila aprendeu a manipulá-los durante a apresentação, montar cenários e criar enredos, mas se apresentar, porém, lhe parecia uma barreira. No começo encontrou as dificuldades, principalmente o preconceito de ser mestra, em uma arte com predominância masculina. Mas, ela não se abateu e em Outubro de 2020, foi criado o “Mamulengo Flor do Mulungu”, com sua formação apenas por mulheres. Fazem parte dessa equipe a mestra Titinha, contra mestra Jennifer ( filha de Titinha), Jacilene Félix interpretando o personagem Mateus, Catirina - zabumbeira, Genilda Félix- triangueira e Stefani no ganzar.
Com muita garra as mulheres conquistaram o seu espaço, mostraram seu talento e romperam barreiras. “O Flor do Mulungu surge com essa proposta de quebrar esse tabu e mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser e onde ela se sente bem”, pontua Titinha.
Inspiradas na literatura de cordel, as histórias são repassadas de geração para geração, sempre marcadas pela oralidade. Seu enredo é quem dá vida as apresentações. No entanto, diante de uma tradição marcada por histórias com diálogos que faziam apologia a violência contra a mulher, homofobia, intolerância religiosa e racismo, por exemplo, Titinha busca sempre fazer adaptações no conteúdo de humor sem perder o objetivo de levar o público a se divertir. “Começamos a lapidar essas apresentações sem tirar a essência dos personagens. Mas, tentamos improvisar sem repetir o que se achava engraçado”, diz.
Os personagens variam entre Caroca, Mateus, Carolina, Goiaba e muitos outros que vão surgindo da imaginação. Dentro da empanada, uma estrutura de madeira que serve para esconder o mamulengueiro ou mestre, elas vão dando vida aos bonecos e construindo as histórias.
A história de Titinha e das demais brincantes do mamulengo é inspiradora e mostra o protagonismo de mulheres que com muita criatividade tem ganhado espaço e são defensoras da cultura raiz. Elas estão escrevendo um novo capítulo na cultura popular da Zona da Mata de Pernambuco. Para conhecer mais sobre o teatro dos bonecos acesse a página do Museu do Mamulengo nas redes sociais:
https://www.facebook.com/MuseuDosMamulengos
@https://www.instagram.com/museudomamulengo/
Conheça o catálogo de bonecos: https://drive.google.com/file/d/1GQgglkJZGvcHcfudHiVszD0IO0jFxpZ-/view
Funcionamento: Segunda a Sábado, das 9h às 17h; Domingo, das 14h às 17h.
Informações: (81) 081 99993-0139.